27.12.11



Querida Abigail:

Tomei uma decisão radical: vou de férias durante 5 semanas. Não sei para onde e sinceramente também não me interessa. O que me interessa é que durante 5 semanas vou fechar a casa, desligar o telemóvel e desaparecer por completo do mapa. Nunca fiz isto, mas nunca é tarde e tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Olha a Ana, que depois de passar a vida afogada em mágoas se meteu toda vestida pelo rio adentro com pedras nos bolsos do vestido para ter a certeza de que não voltava atrás. Não quero acabar igual nem ter tais pensamentos.
Parece-me que a escrita e a felicidade não são grandes amigas. Quem escreve pensa demais e angustia-se com tudo: ou é porque estão a começar um texto, ou é porque estão a meio de um texto, ou é porque estão a acabar um texto, ou é porque estão a rever um texto, ou é porque estão a divulgar um texto, ou é porque ainda estão a escrever outro texto, e isto, querida amiga, é mesmo um inferno. Enfim, não interessa. A vida passa-me ao lado, isto é, viver ou escrever, porque enquanto estou aqui a marrar contra o computador, a vida vai passando. Os meses correm como semanas, os dias são horas e nunca tenho tempo para nada porque estou quase sempre em pânico com o texto que ainda não comecei, ou com o que ainda não terminei, ou com o que o que quer que seja.  
Não te conto estas parvoíces para me queixar, longe de mim tal ideia, mas é por estas e por outras que vou apanhar um avião para parte incerta onde possa comer, beber, apanhar banhos de sol, dormir e desligar desta vida sem vida, a passar os dias fechada em casa como uma prisioneira. Eu não nasci para Rapunzel ou algo do género, isto era só o que me faltava.
Prometo dar noticias quando voltar, ou, quem sabe, durante a viagem.

                                                                                           Margaret 

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